terça-feira, 18 de setembro de 2007

Desejo de um camponês


O final do dia chegara. Mais um, de muito trabalho e esforços. Cheguei na minha humilde e pequena casa sem fome, pois hoje o cansaço havia tomado conta de mim. Fui logo dormir e, como de costume, pedi por uma vida melhor ao meu santo Deus.Estava prestes a adormecer quando uma luz forte invadiu meu quarto, e eu mal podia continuar com meus olhos abertos por causa da claridade.Ouvi uma voz alta e grave, quase que sussurrando no meu ouvido e ao mesmo tempo que parecia muito distante:"Amanhã seu desejo realizado será, e assim poderás saber o que é ser um nobre.Porém, ao dormir novamente, voltará à sua vida normal, e só na lembrança o dia continuará". Meu quarto voltou a ficar escuro e, como num encanto, dormi imediatamente.


O dia já havia amanhecido, e eu tinha que levantar. Abrindo os olhos, fiquei completamente surpreso: Estava não mais em minha casa pequena, mas sim agora em um grande quarto, com vários móveis de madeira e algumas peças de ouro. Minha cama também não era a mesma, agora eu estava deitado em uma muito maior e confortável. Procurando uma explicação lógica para o que acontecera, lembrei-me do que ocorreu no dia anterior, da luz e da alta voz.Agora eu era realmente um nobre!!!Da grande janela, vi toda a imensa propriedade. Os camponeses já estavam trabalhando, atarefados em todos os seus afazeres.Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos. Era um dos empregados, informando que um conde não-sei-das-quantas estava me esperando para falar sobre o casamento da filha dele. Procurei uma roupa no quarto e me troquei.Desci para ver o que tinha de fazer.Um homem bem vestido e com uma postura rígida estava a minha espera."Meu senhor, como já é de seu conhecimento, minha filha Elizabeth ira se casar com o filho do conde Abellard, e como sabes , deve dar-me uma ajuda financeira para a realização do casamento." "Está bem, mas não estou em um dia muito bom, passe aqui amanhã para acertar isso"."Obrigado, meu senhor"Mal o homem falara aquilo e sai rapidamente pelo grande portão a minha frente. Era um dia ensolarado, como sempre, mas não de trabalho para mim. Queria aproveitar o máximo esse único dia.Peguei um cavalo qualquer e fui para a cidade. Enquanto cavalgava, todos me cumprimentavam, me chamando de senhor.Como camponês nem sequer me dão um bom dia.Os ventos faziam esvoaçar meus cabelos, e uma sensação de liberdade tomava conta do meu corpo.Chegando na cidade, logo um homem baixo e gorducho veio falar-me."Bom dia, conde Alexander. Devo-lhe avisar que já esperam para o juramento de fidelidade com o marques Aballud".Momentos depois eu já estava no juramento.Palavras de fidelidade eram ditas , seguidos por comprometimentos e obrigações. Terminado tudo, voltei para a propriedade, e um enorme banquete me esperava.Com tanta comida, imaginei que deveria ser algum evento ou algo do tipo, mas na verdade era somente um jantar diário. Percebi olhares confusos vindo dos empregados, pela forma como eu comia rapidamente e com tanta vontade.Também, um banquete daqueles eu nunca mais experimentaria.Com batidas na porta, um empregado foi abri-la e enformar-me que amanhã seria o dia do pagamento da parte da produção dos camponeses.Concordei e já ia saindo quando um homem que eu não sabia se era um empregado ou não, veio falar-me:"Senhor, o marquês Holondoff pediu para informa-lo que virá amanhã falar do casamento da filha"."Está bem".Quando sai, já estava ficando noite, e mesmo assim os camponeses não haviam parado de trabalhar.Lembrei-me de que, ao dormir, voltaria a minha vida normal, sem banquetes, roupas luxuosas,riquezas e...respeito.Mas eu não podia mudar o destino e, tristemente, voltei para o palácio e fui em direção ao quarto.Dei uma última olhada pela janela.Aquela visão do alto do palácio nunca mais seria vista por mim.Deitei e adormeci, com uma pequena esperança de que no dia seguinte eu voltasse a acordar naquele lugar.


Acordei com a luz do sol e por um momento pensei estar no quarto do palácio.Na verdade voltara para a minha pequena casa.Uma tristeza tomou conta de mim.Mais um dia de trabalho.Mais um dia de camponês...Para o resto da vida!
Por João Pedro Santa

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